terça-feira, 22 de setembro de 2009

Dor de dente.


"... Durante seis meses, talvez um ano, já não lembro, senti sua falta com a aflição de uma dor de dente. Tínhamos cometidos tantas intimidades no meio da noite, tínhamos dito tantas coisas secretas, e agora estávamos ali, nós dois, calados, no mesmo vagão do metrô. O que teria um sabor trágico quando eu era mais jovem - mas que agora parecia, sei lá, um fato normal da vida.
Nada fantástico, nem indecente, nem engraçado, apenas algo comum: o mistério de alguém entrando e saindo de nossa vida, afinal, desmistificado. (Essas pessoas acabam indo para algum lugar.)
E como, eu pensava (enquanto uma mulher de traços indianos descia na estação de Broadview), como poderia fazer Jesse entender isso, como poderia acelerar os próximos meses da vida dele, o próximo ano, talvez, até aquele ponto maravilhoso em que você acorda e não sente mais a falta dela (aquela dor de dente sumiu), mas simplesmente boceja, põe as mãos atrás da cabeça e pensa 'Preciso fazer uma cópia da chave de casa. É arriscado ter apenas uma chave,' ou algo parecido. Pensamentos lindamente banais e libertadores (será que eu fechei a janela do quarto?), que só aparecem quando a dor da queimadura já passou, e até a lembrança dela é tão remota que você não consegue entender por que aquilo durou tanto tempo, ou qual o sentido daquele sofrimento. (Olhe, o vizinho está plantando uma bétula nova!).
Como se a corrente que o prendia à âncora tivesse partido (você não consegue lembrar exatamente onde e quando, ou o que estava fazendo), você percebe de repente que seus pensamentos estão novamente sob controle; sua cama não parece mais vazia, mas simplesmente sua, sua para dormir, ler o jornal ou... Ei, o que eu estava mesmo planejando fazer hoje? Ah, fazer a cópia da chave, claro! Sim!
Como conduzir Jesse até esse ponto?
Então, olhando novamente à minha volta, no vagão do metrô (uma jovem devorava um pacote de batatas fritas), reparei que Paula tinha ido embora. Tinha descido em alguma estação. Ligeiramente surpreso, me dei conta que havia esquecido que ela estava lá, nós dois no mesmo vagão do metrô, atravessando túneis escuros, estávamos com a cabeça em outro lugar - estou certo que isso se aplicava a ela também -, a ponto de ficarmos indiferentes à presença um do outro, e isso numa questão de cinco minutos. Não é... Qual a palavra? Não é estranho? Imagino que esta seja a palavra adequada. Mas mesmo esse pensamento foi imediatamente esquecido. Enquanto eu atravessava a plataforma, carregando minha bicicleta, o metrô se afastou de mim, e eu reparei que a moça das batatas fritas usava aparelho nos dentes. Ela mastigava com a boca aberta."

(GILMOUR, David. O Clube Do Filme. 1ª Ed. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2009).


domingo, 30 de agosto de 2009

Escutai Estrelas.

Aprende a ouvir o que as estrelas te dizem em confidências. ;)


"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouví-las, muitas vezes desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."

(Olavo Bilac, 'Soneto XIII').

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Luto: Descanse em paz, educação superior de comunicação social.



Que tipo de democracia pode sustentar um ministro do Supremo Tribunal Federal que, ao ouvir de seu colega (o também ministro Joaquim Barbosa) que ele deveria ouvir mais a opinião do povo na rua, rebate com "isso serve para encobrir déficitis intelectuais".
QUE MEDO!

Que tipo de ministro tem lisura moral para ser relator de um processo que arranca de nossas mãos a importância da formação superior dos jornalistas quando ele próprio concedeu DOIS habeas-corpus ao banqueiro Daniel Dantas? O mesmo episódio que fez o senhor ser qualificado de BIZARRO pela própria BBC de Londres, o senhor lembra, senhor Ministro? Eu me lembro, viu.
QUE MEDO!

Que tipo de ministro defende-se das críticas que recebe dizendo que simplesmente está sendo vítima de um tiroteio ideológico?
QUE MEDO de uma pessoa simplista desta ser presidente de qualquer coisa!

Que tipo de ministro demagogo e totalitário não aceita críticas a sua permanência frente ao "inequívoco" (segundo as palavras do mesmo) STF? Para ele, as pessoas que são contrárias a sua tirania são simplesmente pessoas pagas para fazer arruaça.(Aonde eu busco meu cachê, senhor Mendes?).
QUE MEDO!

Tristemente, nosso país se perde da frágil democracia que tenta construir.
A prova mais lícita disto é o ILUSTRÍSSIMO senhor Gilmar Mendes dizer que o povo não pode influenciar o STF.
Esse MESMO STF que NUNCA condenou um parlamentar em mais de cem anos. (Você vai votar pela condenação do Antônio Palocci, senhor Ministro, no começo de Agosto?).
QUE MEDO!

É impressionante que o Supremo não tenha conseguido salvar muitas vidas ao legalizar as pesquisas de células-troncos nesse país e, ao mesmo tempo, consiga acabar com a importância da educação superior do profissional de comunicação.
O mesmo profissional, senhor Ministro, que paga impostos suados para o seu gordo salário.
O mesmo profissional, senhor Ministro, que fala alto suas terríveis decisões e incapacidades de julgamento.

Em toda história do Supremo Tribunal Federal, senhor Ministro, nunca houve a intenção de um impeachment, senhor Ministro. Só com o Senhor. Mas o Senhor nem se envergonha, né Senhor Ministro?
Mas eu sou muito boa em sentir vergonha alheia, viu? E eu me envergonho por você.
Sabe, senhor Ministro, eu sou jornalista de formação e a minha educação superior, Senhor Ministro, me diz que eu deveria estudar a sua história. E eu fui, sabe, Senhor Ministro. E eu nunca vi um Ministro com tantas discordâncias e falta de respeito com os colegas, além dos escândalos que o senhor provoca e vão parar na mídia, Senhor Ministro, quanto com o senhor.
O senhor tem medo de jornalista capaz, Senhor Ministro? É por isso, né? A maioria das pessoas são levadas por intenções mesquinhas, senhor Ministro. E pequeno que és, também fostes...

Deus permita, em sua infinita bondade e misericórdia que o senhor, Senhor Ministro, não cruze o meu caminho...
Por que se não, senhor Ministro, quem vai sentir medo é você. Porque eu vou falar e gritar na sua cara a minha indignação com a INDIGNA nação que eu vivo e a minha enorme tristeza...

O Senhor, Senhor Ministro, conseguiu o impossível: O senhor me deixou com vergonha de ser brasileira, Senhor Ministro.
Sinto pena de Francisco Ferreira Mendes e de dona Nilde Alves por terem parido um filho tão pouco pródigo, Senhor Ministro.

Brasília, 19 de junho de 2009.
Camila Vilela de Holanda, jornalista de formação.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Lua e estrela.

Essa música me traz tanta doçura...


segunda-feira, 15 de junho de 2009

Antes de ti.

Trata-se do seguinte: Estou lendo um livro muito, muito bonito. É da Cristiana Guerra, uma blogueira que perdeu o marido e meses depois nasceu o filho. Ela decidiu contar a história do pai para o filho deles através do blog (http://parafrancisco.blogspot.com/) e eu não sabia disso quando comprei o livro no aeroporto, voltando das férias. Existem situações específicas, mas há, também, algumas situações que todos já passamos, seja por sorte, por infortúnio ou simplesmente por capricho da vida. Numa tarde ensolarada, resolvi publicar um dos textos. Ele se chama 'Antes de ti'. Digitanto o texto, palavra por palavra, pude voltar a um tempo de mim, um tempo meu, um tempo dividido em antes e depois de tantas coisas... P.S.: Os negritos, itálicos e os caps do texto são por minha conta e da minha conta. Esse é o tipo de texto que está marcado no meu livro em diversas cores de canetinhas, cheios de anotações nos lados das páginas e lembranças carregadas por todo o meu ser...


"Eu me lembro de decidir que iria ouvir uma música insistentemente. Como se fosse uma recomendação médica: ligar o computador, olhar fixamente para nossa foto juntos, escutar a música e chorar. E repetir o exercício quantas vezes fosse necessário. Até esgotar o choro, até o cansaço superar a dor.
Era julho de 2005 e eu tinha acabado de viver os cinco meses mais sofridos da minha vida.
Meio ano antes, eu e seu pai nos apaixonamos.
Uma pista de dança, um pôr-de-sol na serra, uma varanda, um bar de samba, uma rodoviária, uma pousada do século XVIII, um restaurante de amigos e finalmente o meu novo apartamento. E a deliciosa viagem de ouvir histórias, rir e chorar, entre o medo e a entrega, entre o saber e o descobrir. Mas logo a vida voltou ao normal, o cenário voltou a ser a sala de criação da agência, meu apartamento se encheu de móveis e se esvaziou dele.
Ele não conseguia ir adiante. Tinha saído machucado do casamento. Queria estar só por um tempo, reconstruir suas coisas, refazer seu espaço, retomar contato com gostos e sonhos. Queria cuidar dele, para então embarcar em uma nova relação. Está certo que eu queria ajudar, mas isso teria que começar por ele.
Era preciso deixar as coisas se assentarem - se é que isso era possível.
Acontece que trabalhávamos na mesma empresa. Na mesma sala. Um em frente ao outro. Diariamente, eu tentava disfarçar o que estava estampado no meu rosto. ELE SE ASSUSTAVA COM A CERTEZA ABSURDA DO QUE EU SENTIA. EU ME ASSUSTAVA POR NÃO CONSEGUIR ME LIVRAR DELA.
Ele tinha decidido não estar mais comigo. O coração dele, não.
Estar tão perto dele suscitava em mim sentimentos difíceis de controlar. Desejo. Saudade. Vontade de estar mais perto.
Da parte dele também parecia ser assim. Abraços, afagos, mimos, e-mails, músicas. Todo dia eu deparava com algum carinho vindo do seu pai. E você há de convir comigo que assim fic difícil.
Resultado: nos cinco meses em que permanecemos separados, permanecemos juntos. Não havia uma semana em que ele não me visitava em casa.
Entre uma noite e outra, trabalho. Entre um fim de semana sem ele e uma noite com ele, dúvidas. E O CORAÇÃO DOENDO DE INSEGURANÇA E ANGÚSTIA. Meu peito não teria aguentado por muito tempo.
Eu queria seguir em frente. Mas ele não me deixava em paz. Eu queria seguir em frente. MAS MINHA VONTADE DE LUTAR POR ELE TAMBÉM NÃO ME DEIXAVA EM PAZ.
O decorrer desses meses me deixou confusa. EU NÃO CONSEGUIA ENTENDER O QUE ELE SENTIA POR MIM E NEM SABIA LIDAR COM O QUE EU SENTIA. Mas tenho um instinto de sobrevivência impressionante. Tentava me interessar por outras pessoas. O que até acontecia. Ele tinha ciúmes. E o sofrimento ficava maior. Para mim e para ele.
Ao lado dele, eu me sentia feliz e livre. Separados, eu parecia condenada à prisão de não o ter. E essa era mesmo uma fórmula infalível para me prender. Mas eu vinha tentando todos os planos de fuga.
Cheguei a ensaiar uma saída do emprego. Recebi uma boa proposta e estava abandonando meus amigos e a agência de que eu gostava tanto. Precisava levar meus olhos para algum lugar longe do seu pai.
Estava indo para outra grande agência - um passo profissional interessante - não fosse o fato de, uma semana antes da data marcada para a minha ida, o Brasil descobrir que essa agência era uma das envolvidas num escândalo nacional.
Por um lado, desespero. Por outro, alívio. Meu lugar ainda estava ali. E meu lugar continuava sendo em frente ao seu pai.
Dei um jeito de sair de férias. Fui ao Rio passar uns dias sozinha. Mas as mensagens de celular chegam longe: as dele conseguiram me alcançar. PEGUEI UMA PRAIA, PENSEI, SOFRI, RESPIREI FUNDO E VOLTEI.
Enquanto isso, ele pensou também. Na volta, conversamos e decidimos fazer a ruptura. 11 de julho de 2005. Uma conversa madura, delicada, bonita. Ele me disse tantas outras coisas. Entre elas, que sempre esteve escondendo de si mesmo o amor que sentia por mim. Disse ter esperança de que o tempo passasse e que pudéssemos de novo nos encontrar. Não seria necessário. Afinal, nos encontrávamos todo dia.
Choramos muito. Queríamos o melhor um para o outro. QUERÍAMOS SER ALEGRIA. Eu tinha que aprender e respeitar. MAS AS DESPEDIDAS TÊM O PODER DE TRAZER O AMOR À TONA, FILHO.
Na mesma noite, fomos à festa de uma amiga em comum. Nosso encontro foi alegre e civilizado. Ao chegar em casa, desabei. Liguei pra ele chorando. 'Vamos passar essa noite juntos?', ele sugeriu. Não poderia ser diferente.
Quando chegou, eu esperava por ele de pijama. Entrou, colocou no som uma música nova e me tirou pra dançar. Seu pai não era fácil, filho. Se aquela era uma despedida, ele cuidou para que fosse inesquecível.
E foi ali, de pijama, no meio da sala, que dançamos enquanto o Jorge Drexler cantava aos nossos ouvidos: 'ANTES DE MÍ TU NO ERAS TU, ANTES DE TÍ YO NO ERA YO. ANTES DE SER NOSOTROS DOS NO HABÍA NINGUNO DE LOS DOS'.
Difícil acreditar que aquilo fosse mesmo uma separação.
No dia seguinte, acordamos juntos e seguimos separados. Já era hora de parar de sofrer.
À noite, levei a sério a tal terapia do choro. Música, foto, música de novo. LOGO VEIO O SONO, O MELHOR AMIGO DOS CORAÇÕES PARTIDOS. NA MANHÃ SEGUINTE, ACORDEI E A REALIDADE DOEU DE NOVO.
Mas dessa vez eu tinha decidido que seria diferente. Segui forte para enfrentar mais um dia de trabalho, mais um dia vendoseu pai. À noite, no aniversário de um amigo, A VIDA ME PRESENTEOU COM SINAIS DE ALÍVIO E ESPERANÇA. NOVOS ARES, NOVAS PESSOAS. É PRECISO SABER OLHAR PARA OS LADOS. Em três dias, comecei a namorar outra pessoa. Era fim de semana, e acho que seu pai nunca soube disso.
Depois de meses, finalmente eu terminava feliz um domingo. Meu amigo Dani tinha acabado de sair da minha casa depois de uma tarde leve e divertida. Tinha acabado de conhecer meu novo namorado. E eu estava indo dormir satisfeita. Enfim, seguia em outra direção.
Era por volta das dez da noite desse domingo, 17 de julho de 2005, quando recebi uma mensagem do seu pai no celular: "Posso dormir aí?". Alguns minutos para me refazer do susto. Eu tinha decidido dizer não, mas não me veio a coragem para escrever uma mensagem tão dura. Liguei, certa de que seria mais um movimento intermitente. Ele disse que precisava me ver. Veio. Abri a porta e o que encontrei do outro lado foi alguém dizendo 'Amo você'.
POR UM MINUTO, FIQUEI CALADA. POR QUANTO TEMPO ESPERAVA OUVIR DE NOVO AQUELA FRASE. Desnecessário dizer que era recíproco. Eu não sabia se beijava, chorava ou batia no seu pai. Ele sabia. Só fazia chorar e pedir perdão.
E foi assim, num piscar de olhos, que talvez o seu pai tenha entendido o que a música dizia:'Não entendo como podia viver antes'. Também não entendo, filho. Minha vida ficou tão mais bonita quando ele finalmente resolveu fazer parte dela."
(GUERRA, Cristiana. Para Francisco. 1ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2008).



terça-feira, 26 de maio de 2009

Be rough!




"Romeo: -Is love a tender thing? It is too rough, too rude, too boist'rous, and it pricks like thorn.

Mercutio: -If love be rough with you, be rough with love. Prick love for pricking and you beat love down."

(SHAKESPEARE, W. in 'The Tragedy of Romeo and Juliet')

sábado, 23 de maio de 2009

Everybody hurts...

E é bem isso...

domingo, 17 de maio de 2009

Um passeio de Francisco.

É uma linda manhã nublada em Brasília, com a temperatura ideal e pouca gente na rua.
Lembro o quanto Francisco gosta de passear, ponho-me num vestido floral e vou.

Eu sempre lembro o quão me divirto com as estripulias desse cachorro.
Ávido por descobrir o mundo, ele até mesmo se enrola na coleira e se perde diante de tantas novas coisas que aguardam para serem conhecidas.
Chama a atenção dos poucos transeuntes e ganha afago de todos eles.

Com o eterno costume de carregar meu celular, trago sempre essa proposta de com ele fotografar qualquer coisa que possa se encaixar em mim como poesia.

Segue, então, algumas imagens do passeio matinal de Francisco e um pouco do meu olhar.
(Um pouco cansado, um pouco surpreso!)...

P.S.: Depois de beber muita água, ele está deitado de barriguinha no chão e quase dormindo, com uma expressão de enorme satisfação e a certeza de que hoje conheceu um pouco mais da quadra que vivemos.

P.S.do.P.S.: É mesmo uma pena que a câmera do meu celular seja tão ruim, de modo que se eu optasse por dar zoom em uma foto, ela ficaria pequena assim (mas só descobri isso depois)...















Lembrete.

domingo, 10 de maio de 2009

Vapor barato.


Ele tinha um cheiro tão vulgar.

Era um cheiro quase que comum: Um cheiro que pertencia a todos os homens com quem ela cruzava pela rua, e, ainda assim, era um cheiro somente dele.

Era o mesmo odor que sentia entrar pela porta de sua casa, quando o vizinho saía do elevador pontualmente, e todos os dias, às seis da tarde.
(E ainda assim, fazia o seu coração disparar!)

O exato mesmo cheiro daquela fileira de desodorantes (a vapor) que ela era obrigada a ver no começo de semana nas idas ao supermercado para fazer as compras.
(Vapor barato, concluiu, com uma pontada no peito.)

-Barato e vulgar como tudo que dele faz parte-, pensou, entristecida.
(Como pudera pertencê-lo? Ela era tão especial!)

Viver em paz era o que ela queria.
Mas como seria possível com todos esses cheiros vulgares que a perseguiam?


Sim!, eu estou tão cansada... Mas não pra dizer que eu estou indo embora. Talvez eu volte, um dia eu volto, quem sabe... Mas eu preciso, eu preciso esquecê-la, a minha grande, a minha pequena, a minha imensa obsessão, a minha grande obsessão... A Minha Honey Baby!
(Gal, 'Vapor Barato')

(Foto: Marina Vilela, efeitos por mim)

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Trilhos Urbanos.

Essa música me lembra uma ótima atitute que eu tomei em algum verão passado.
Peguei o carro, coloquei meu cachorro dentro e viajei sozinha.
Viajei para buscar: O que passou e o que eu sabia que estava por vir.

Eu, Francisco e a estrada: O vento no rosto e o caminho errado que tomei.
Caetano cantava 'Trilhos Urbanos' e eu me sentia completamente feliz.


(Fotinho antiga, 2006!)


O melhor o tempo esconde, longe, muito longe,
Mas bem dentro aqui...

Quando o bonde dava a volta ali, no cais de Araújo Pinho,
Tamarindeirinho, nunca me esqueci onde o imperador fez xixi...

Cana doce Santo Amaro, gosto muito raro
Trago em mim por ti, e uma estrela sempre a luzir...

Bonde da Trilhos Urbanos vão passando os anos
E eu não te perdi, meu trabalho é te traduzir...

Rua da Matriz ao Conde no trole ou no bonde,
Tudo é bom de ver, seu Popó do Maculelê...

Mas aquela curva aberta, aquela coisa certa,
Não dá prá entender o Apolo e o rio Subaé...

Pena de Pavão de Krishna, maravilha, vixe Maria,
Mãe de Deus, será que esses olhos são meus?

Cinema transcendental, Trilhos Urbanos, Gal cantando o Balancê,
Como eu sei lembrar de você...
(Caê, 'Trilhos Urbanos')

Queixa.


Você pensa que eu tenho tudo,
E vazio me deixa.

Mas, Deus não quer que eu fique mudo
E eu te grito esta queixa...!

Qualquer coisa.

Quando eu escuto Caetano tanta coisa, mas tanta coisa mesmo, acontece aqui dentro.
(Acontece em mim. Por mim. Para mim.)

São passeios noturnos de carro sob o luar e o cheiro de mar, são noites insones cheias de lágrimas, é o eterno não-entender, é a negação, é o meu dançar, é a minha tentativa de esquecer o que já não mais quero lembrar, é a minha infância quando eu cantava embolado, meu sono da tarde na adolescência, é a certeza da música que me acompanha e por ela me compreender, é a raiva das bobagens ditas (e as não ditas também!), é a viagem solitária na busca por companhia numa distância curta, é o barulho do ventilador, é a incessante agonia necessária, são dias de calor e suor, é o escuro na garagem quando estou saindo para luz, é o berrar por saber do que se trata, é a secura nos lábios depois de uma madrugada chorosa num telefonema que ecoa, é a manhã gelada, é o amanhã inteiro, a fumaça do cigarro que já não há, a cerveja que nem embebeda, a pouca razão das coisas, o quase nada e o tudo pleno...
(Dentre outras coisas, óbvio...)

Costumo dizer que Caê é minha biunívoca relação que flutua em passos silenciosos entre amor e ódio.
(Escutá-lo se faz difícil e necessário.)

Numa noite fria e de sono curto, resolvi fazê-lo.
E deu no que deu: Mil reflexões sobre as mais variadas coisas...
(Eu precisava pontuar isso, mesmo que não tenha nenhum significado, significância ou propósito.)



Esse papo já tá qualquer coisa,
Você já tá pra lá de Marraqueche...

Mexe
Qualquer coisa dentro, doida
Já qualquer coisa doida
Dentro mexe
Não se avexe não
Baião de dois
Deixe de manha, 'xe de manha, pois
Sem essa aranha! Sem essa aranha!
Sem essa, aranha!
Nem a sanha arranha o carro
Nem o sarro aranha a Espanha
Meça: Tamanha!
Meça: Tamanha!

Esse papo seu já tá de manhã...
Berro pelo aterro
Pelo desterro
Berro por seu berro
Pelo seu erro
Quero que você ganhe
Que você me apanhe.
Sou o seu bezerro
Gritando mamãe.
Esse papo meu tá qualquer
coisa...

E você tá pra lá de Teerã...

sábado, 2 de maio de 2009

Um pouco de magia...


Eu não sei como viver sem isso...
(Não sei mesmo!).


sábado, 25 de abril de 2009

Utilidade Pública II.

Estou preocupada com essa nova onda de Gripe Suína.

Os números oficiais são de 68 mortes no México e mais de 1000 infectados (sendo 11 nos Estados Unidos).
Esta manhã, o Centro para Controle e Prevenção dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) confirmou que não há como controlar a expansão do novo vírus.
(Update: a OMS acaba de afirmar que a Gripe Suína tem 'potencial pandêmico').

Nos Estados Unidos e no México já foram declaradas situações de emergência para contenção da gripe e uma reunião da Organização Mundial da Saúde (OMS) terminou sem decisões hoje pela tarde.

(Fica aqui um profundo lamento e respeito pelas vítimas).

Gripe Suína, Gripe Aviária, Vaca Louca, Salmonela...
SEJA VEGETARIANO e não corra esses riscos!




Quantas pessoas mais vão ter que morrer para que a gente entenda de uma vez por todas que NÃO DEVEMOS COMER ANIMAIS?

Otimismo!


"Il y a une lumière au bout de chaque tunnel... (Reste à prier pour que ce ne soit pas un train.)"

sexta-feira, 24 de abril de 2009

Sócrates Brasileiro

Romário é o cara?
Não. Nunca foi.
E está BEM LONGE de ser...

'O cara' se chama Sócrates.
Gênio dentro e fora de campo.
Ser humano ingualável, médico, democrata, verdadeiro.
(CORINTHIANO!)

Que vontade de viver numa época em que jogadores de futebol sejam mais que jogadores de futebol! Que vontade que eles sejam mais como Sócrates Brasileiro Sampaio de Souza Vieira de Oliveira...

















quinta-feira, 23 de abril de 2009

terça-feira, 21 de abril de 2009

Vacuum out the fluids.

'Drain you' é, sem a menor dúvida, uma das mais lindas canções de amor que eu conheço.
Tem energia, tem pureza e tem um quê de rancor...
(E tudo ao mesmo tempo!)

É bem desse tipo de coisa que só Kurt Cobain era capaz de fazer...

E, ah, eu não acho que algum dia vá parar de me surpreender com a força do Nirvana na minha vida e nem com a música deles, é tudo intenso.

Eis uma banda que é uma constante na imensidão das minhas impermanências e paixões...


Nostalgia.





Sentir falta do que os olhos já viram e sempre o ver de uma maneira diferente...


(Fotos: Marina Vilela, Fazenda Boa Sorte-AL. Efeitos por mim)

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Ele, sim, sabia das coisas...


De tarde eu quero descansar...

Tem algo que eu costumo fazer sempre que me sinto sozinha, ou perturbada, ou sem concentração, ou evasiva, ou triste, ou quando não me sinto coisa alguma: Dirigir.

Sim, eu fico horas (HORAS MESMO!) guiando pelas ruas dessa Brasiléia Desvairada, tão curvilínea e cheia de highway, tão pouco perigosa e improvável.

Muita luz e muito verde (mesmo nas noites frias) enchem meus olhos ao mesmo tempo que eu escuto tudo aquilo que toca e me toca: Não há uma ordem no som do carro, o cd gravado sem cuidados toca displicentemente...

Nessas (faltas de) direções, um dos meus favoritos lugares é a Ponte JK.
Eu não sei explicar porque, mas cruzar aquele horizonte é sempre essencial nos meus passeios tardios...

Não é uma busca, é mais como uma necessidade.
É como se, automaticamente, o carro fosse dirigido para lá, a fim de cruzar a grandiosidade do monumento.

O vento gélido -seco, porém- no rosto e nos cabelos se faz presente, e um pouco de alívio toma o espaço do vazio que há em mim (naquele instante).



Imagem do Dia!

Alguns comentaristas estão falando que não viam o Ronaldo tão feliz assim desde a época do Barcelona. Olha, eu tenho que concordar!



Clique na foto do Fenômeno e veja um clipe de alguns momentos dele esbanjando alegria no Corinthians.


domingo, 19 de abril de 2009

Sempre altaneiro!

CORINTHIANS, MOSTRANDO PRAS PORCAS COMO SE GANHA DAS BAMBIS DESDE 1910!




'Mas que velocidade, gordo!'
(Mano Menezes, para Ronaldo, depois de seu gol)

'Ontem a bola de cristal do Muricy rachou e hoje ela quebrou.'
(Mano Menezes, se referindo as previsões de Bambicy Ramalho sobre as finais do Campeonato Paulista de 2009, quando o técnico são-paulino disse que seriam disputadas entre as Porcas e as Bambis)


'Tem sempre um babaca qualquer falando merda. Quero ver se esse dirigente vai aparecer falando gracinha.'
(Ronaldo, sobre Leco, o vice-presidente das Bambis que o chamou de ex-jogador)




Alguns dados que acabei de me lembrar:
-Há exatos DOIS ANOS E SETE MESES o Corinthians não perde pra Bicharada;
-Bambizada, eterna freguesia: Estatística do Majestoso: 298 jogos (108 vitórias do Corinthias x 95 do São Paulo). Era Profissional: 239 jogos (83 vitórias alvinegras x 76 tricolores);
-Nos últimos DEZESSEIS jogos no Morumbicha, o Timão venceu QUINZE;
-Os DOIS MAIORES RECORDES de público do Morumbicha são da Fiel Torcida. Ou seja, esse estádio é nosso salão de festas...



P.S.: Clique na imagem do Ronaldo para assistir aos gols do baile do Corinthians sobre a Bicharada e na imagem de São Jorge para os gols da primeira rodada da semifinal.


'MEU SÃO JORGE GUERREIRO DERROTOU MAIS UM DRAGÃO!'

OBRIGADA, SENHOR: DEUS É FIEL!

sexta-feira, 17 de abril de 2009

Imagens de uma quinta feira...

De flores cor-de-rosa na Asa Norte, estudos urgentes, mochila pesada, serotoninas em chocolates coloridos, sapatinhos leves, meias quentinhas no final da noite, pijama de flanela, carinhos do pug e cappuccinos gelados, foi composta a minha quinta-feira chuvosa...
E a sua, como foi?











quinta-feira, 16 de abril de 2009

Mosaico.


'Não se assuste, pessoa, se eu lhe disser que a vida É boa...'

Esses dias eu senti saudades imensas de tanta gente e tantos outros tempos que até chorei.
Mas me vieram as lágrimas ao mesmo tempo em que sorria: Entre soluços e risos, me senti a mais sortuda das criaturas por tudo o que vivi.

Obrigada, momentos que passaram e pessoas que continuam.
Agradeço por me darem motivos de lembranças e presenças tão fortes em músicas, cheiros , lugares (em que estivemos ou não) e sensações (mesmo o gosto do cigarro e do vinho barato que já não me tocam os lábios abstêmios).

Sentir: tudo e mais.
Agora e sempre.

Não tenho certeza se algum dia esquecerei...
(Mesmo as coisas que gostaria de deixar para trás).

-No fim das contas, o que importa, é ter histórias para contar-, já me disse um querido amigo na subida da Rua Augusta (não necessariamente a 120 quilômetros por hora, pois, justo naquele dia, havíamos decidido que São Paulo só era possível a pé...).


... Fica a dica: http://www.youtube.com/watch?v=s0euyhgNR2c
(Não consegui encontrar a música original, com Novos Baianos. Mas, vale a pena conhecer essa versão também, mesmo que não seja tão boa quanto a original...)

Hasta mañana.

Eu sei que deveria estar fazendo outra coisa.
Essa Síndrome de Onipotência ainda vai me quebrar a cara.
Maldita autoconfiança.

Até quando a fuga do óbvio, hein?
Quando chegará o tempo das resoluções adultas?
Amanhã.

Sempre amanhã...


E porque o hoje foi mais um dia de desperdício?
(Porque para todas as coisas há o amanhã).

Não é mesmo irônico que uma pessoa tão ansiosa acredite no dia depois de hoje?
'Desculpa de gente preguiçosa', diriam uns.
(Talvez completamente certos...)

sábado, 4 de abril de 2009

Que a chuva caia.

Às vezes eu realmente prefiro ficar emudecida -no mais cortante silêncio- a ter que te contar as coisas...
(Me dá um medo: Elas não tinham cores, nem nomes e nem rostos. Foi tudo reduzido a muita dor, apenas.)

Preferiria, mil vezes, morrer calada a falar-lhe meus temores.
Quero que o vazio permaneça em si próprio (nele somente, se contendo e existindo) e não torne a ecoar -viver, tampouco- pelas minhas palavras.
(Se ele pertencer ao mundo do silêncio, por lá morrerá.)

Finito.
Findou-se.


"você me fala que as coisas são diferentes. que eu devia falar tudo, mas sempre foi assim, tudo passa pelo pensamento, mas ainda assim prefiro ficar caladinha, te observando. nem sei se isso foi resultado daquele último relacionamento, que eu me entreguei tanto que acabei sem nada. eu não tinha nenhuma cor e agora eu quero pintar minha vida de aquarela de novo, mas quero pintar caladinha, do teu lado, te sentindo respirar por perto, me olhando com curiosidade e entendendo que eu preciso ficar um pouco com as coisas só pra mim."
(Diana Valentina, texto retirado na íntegra de: http://aoptimista.blogspot.com/)

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Alívio Imediato.

O melhor esconderijo, a maior escuridão, já não servem de abrigo, já não dão proteção.
A Líbia é bombardeada, a libido e o ví­rus: O poder, o pudor, os lábios e o batom...
Que a chuva caia como uma luva, um dilúvio, um delírio...
Que a chuva traga alívio imediato.
Que a noite caia, de repente caia tão demente quanto um raio...
Que a noite traga alí­vio imediato...
Há espaço pra todos, há um imenso vazio nesse espelho quebrado por alguém que partiu...
A noite cai de alturas impossí­veis e quebra o silencio e parte o coração.
Há um muro de concreto entre nossos lábios, há um muro de Berlim dentro de mim!
Tudo se divide, todos se separam: Duas Alemanhas, duas Coréias
(Tudo se divide, todos se separam: A diferença é o que temos em comum!)
Que a chuva caia como uma luva, um dilúvio, um delírio...
Que a chuva traga alívio imediato.
Que a noite caia, de repente caia tão demente quanto um raio...
Que a noite traga alí­vio imediato...
(GESSINGER, H.)


Por um pouco mais de poesia na vida...

Nunca vou entender a birra que 9174298374380 pessoas têm do Loirão, mas, ele é meu companheiro em mil horas de pensamentos e direções...
(Direções por todos os lugares e a sempre highway).

Nesses dias de chuva em Brasília, não paro de ouvir:
http://www.youtube.com/watch?v=OGXYegzS7gE


Imagem: Humberto Gessinger por http://www.flickr.com/photos/fyrs

terça-feira, 31 de março de 2009

Endorphins.


Sometimes the world is dark and cold,
and no matter what I'm told,
I'm scared and I'm alone and I'm five years old...
Will you hold my hand?

(...)

Come and take a swim with me,
we'll wait underwater patiently
for the output of endorphins as we're swallowed by the sea
will you hold my hand?
will you hold my hand?
will you hold my hand?

(Dawson, K.)

And I must confess...

segunda-feira, 30 de março de 2009

Utilidade pública.

Gente, nosso planetinha está tão dodói, que o mínimo que façamos tem representatividade máxima.
Navegando pela internet hoje, achei uma excelente notícia e espero que chegue logo por aqui.
Passando a idéia adiante...


Os produtos orgânicos continuam no auge. Prova disso é que nesta segunda-feira (30), as prateleiras dos mercados da Grã-Bretanha receberam o primeiro chiclete biodegradável do mundo, segundo informações do jornal The Guardian. O produto é aguardado com muita expectativa porque certamente reduzirá os gastos destinados à limpeza de asfaltos e calçadas.

O chiclete Chicza Rainforest é fabricado no México pelo Consorcio Chiclero, formado por 56 cooperativas que empregam cerca de dois mil empregados. Os trabalhadores extraem o chiclete natural do óleo de uma árvore popularmente conhecida como 'chicle'.

Ao contrário do chiclete convencional, que contem petroquímicos, o chiclete orgânico não gruda no pavimento. Ao ser jogado fora, ele se desintegra em até seis semanas porque é dissolvido pela água ou absorvido pelo solo.

É caro e difícil remover os chicletes das vias públicas. Para retirar cada um deles, gasta-se em média 30 centavos de libra, algo em torno de R$ 0,96. No ano passado, o governo britânico demorou 17 dias ininterruptos para limpar a Oxford Street, uma das principais ruas de Londres. O esforço foi grande e o resultado desanimador. Dez dias após a limpeza, a rua estava poluída novamente.

O pacotinho de Chicza custa £ 1,39 (aproximadamente R$ 4) e por enquanto está disponível nos sabores limão e menta.

Fonte: Globo.com

sábado, 21 de março de 2009

Dans Paris!

-Preciso comprar livros!-, lembrou-se, de supetão.

Num ímpeto apressado, levantou-se da cama e colocou sobre si um vestidinho bicromático e floral, com abotoaduras de laços (que lhe deixava os ombros sardentos à mostra em noite de chuva).
Passou um blush rosado, um protetor nos lábios já rachados (e nem estava na época da secura lancinante), calçou uma sapatilha preta e voou para fora.

Bateu a porta do carro e encarou o painel:
-Ah, droga, tenho que por gasolina.

Foi direcionada ao posto.
Lá chegando, cumpriu o ritual rotineiro de tirar a chave e dizer:
-Completar de comum, por favor.

Até que...
-Mociiiinho, pára! Esqueci a carteira em casa, vou buscar e já volto!
O frentista riu- compreensivo-, com aquele sorriso indicativo de que a 'avoação' da moça tudo tinha a ver com a cor de seu cabelo.

Depois de tudo pronto, finalmente foi em direção a mega bookstore, esperançosa e cheia de certezas de que lá encontraria os livros para sua pesquisa científica.
Não encontrou. Mas, ainda assim, manteve o velho hábito de sempre: Comprar ao menos um livro a cada vez que entrasse na loja.
Marcela não entendia como alguém conseguia sair sem nada nas mãos de um estabelecimento daquele tamanho: Eram tantos livros, tantas histórias, tantas opções a serem exploradas, tantas capas, tantas cores...

Aborrecida com a quantidade de pessoas no shopping, decidiu que ia até a loja de departamentos comprar lápis, cubas de gelo, bloquinhos (eram seu vício!), copos, canetinhas (não se controlava jamais!) e mais itens totalmente desnecessários a sua casa já completa.
Depois de tudo na cestinha, olhou para fila e desistiu da mínima chance de perder minutos de sua vida por ali. Abandou as futuras compras e foi-se embora.

Mais uma vez no carro, ligou o som e sentiu uma profunda vontade de encontrar os amigos. Um desejo que constrastava com a responsabilidade e a obrigação de voltar para casa e estudar.
Depois da dualidade entre bom senso e massiva vontade, saiu a telefonar e marcar programas. Marcela furou em todos eles. (Talvez pela culpa de ter consagrado o desejo como vitorioso).

Saiu dirigindo e pensando que quando olhava pra dentro de si mesma por vezes via tanta solidão (acaso fumasse, essa seria a hora de acender um cigarro tirado sem muitos cuidados da bolsa). Mas sempre censurava esse pensamento por julgá-lo injusto com todos aqueles que a cercam...

Atravessou a cidade plana e fria sem perceber, e já bem distante de qualquer lugar que pudesse sentar e sentir-se em Paris, começou a atinar para a secura que estava em sua boca: tinha sede.
Só que, por ser Marcela, sua sede era complicada de saciar: ela queria uma soda siciliana de amora.
-Oh, droga! O único lugar que vende soda siciliana nessa cidade fantasma e querida é do outro lado do ponto onde estou agora...

Mas ela era incontrolável em seus desejos e ia até lá mesmo assim.
E ia sozinha. Sentia falta de si mesma. Carregava consigo suas novas aquisições em livros e pensou que seria divertido sentar no Café e tomar uma soda siciliana de amora...
Imaginou que lá estaria quente e aconchegante e que poderia ver Paris diante de seus olhos.

Deu meia volta e, sem muita culpa, pensou:
-Ah, acabei de colocar combustível mesmo...

Cantava Djavan e ansiava por sentar-se isolada com seus novos livros e sua soda de amora.
Chegando no Café, percebeu o quão estava cheio. E assim ela não queria. Assim haviam ruídos de outras pessoas. Assim havia demora. Assim não haveria Paris e nem silêncio e nem sua necessária solidão.

Sequer estacionou o carro e, decepcionada, foi embora.
Novamente cidade plana. Novamente escura. Novamente frio. Novamente chuva.

Tomou juízo que talvez esse sentimento em si daria um conto pro blog e foi para casa.
Não acendeu as luzes, sentou-se no computador e pensou que a Coca-Cola (que ela nem gostava!) poderia substituir a soda siciliana.
Enganou-se!

Mas, como nada nesse mundo fica impune e a solidão às vezes não cai bem a uma mulher que tem o mundo na cabeça, recebeu um telefonema:
-Marcela, estamos indo pra chopperia. Vamos?
E ela, mesmo sendo abstêmia, consentiu.