sexta-feira, 19 de junho de 2009

Luto: Descanse em paz, educação superior de comunicação social.



Que tipo de democracia pode sustentar um ministro do Supremo Tribunal Federal que, ao ouvir de seu colega (o também ministro Joaquim Barbosa) que ele deveria ouvir mais a opinião do povo na rua, rebate com "isso serve para encobrir déficitis intelectuais".
QUE MEDO!

Que tipo de ministro tem lisura moral para ser relator de um processo que arranca de nossas mãos a importância da formação superior dos jornalistas quando ele próprio concedeu DOIS habeas-corpus ao banqueiro Daniel Dantas? O mesmo episódio que fez o senhor ser qualificado de BIZARRO pela própria BBC de Londres, o senhor lembra, senhor Ministro? Eu me lembro, viu.
QUE MEDO!

Que tipo de ministro defende-se das críticas que recebe dizendo que simplesmente está sendo vítima de um tiroteio ideológico?
QUE MEDO de uma pessoa simplista desta ser presidente de qualquer coisa!

Que tipo de ministro demagogo e totalitário não aceita críticas a sua permanência frente ao "inequívoco" (segundo as palavras do mesmo) STF? Para ele, as pessoas que são contrárias a sua tirania são simplesmente pessoas pagas para fazer arruaça.(Aonde eu busco meu cachê, senhor Mendes?).
QUE MEDO!

Tristemente, nosso país se perde da frágil democracia que tenta construir.
A prova mais lícita disto é o ILUSTRÍSSIMO senhor Gilmar Mendes dizer que o povo não pode influenciar o STF.
Esse MESMO STF que NUNCA condenou um parlamentar em mais de cem anos. (Você vai votar pela condenação do Antônio Palocci, senhor Ministro, no começo de Agosto?).
QUE MEDO!

É impressionante que o Supremo não tenha conseguido salvar muitas vidas ao legalizar as pesquisas de células-troncos nesse país e, ao mesmo tempo, consiga acabar com a importância da educação superior do profissional de comunicação.
O mesmo profissional, senhor Ministro, que paga impostos suados para o seu gordo salário.
O mesmo profissional, senhor Ministro, que fala alto suas terríveis decisões e incapacidades de julgamento.

Em toda história do Supremo Tribunal Federal, senhor Ministro, nunca houve a intenção de um impeachment, senhor Ministro. Só com o Senhor. Mas o Senhor nem se envergonha, né Senhor Ministro?
Mas eu sou muito boa em sentir vergonha alheia, viu? E eu me envergonho por você.
Sabe, senhor Ministro, eu sou jornalista de formação e a minha educação superior, Senhor Ministro, me diz que eu deveria estudar a sua história. E eu fui, sabe, Senhor Ministro. E eu nunca vi um Ministro com tantas discordâncias e falta de respeito com os colegas, além dos escândalos que o senhor provoca e vão parar na mídia, Senhor Ministro, quanto com o senhor.
O senhor tem medo de jornalista capaz, Senhor Ministro? É por isso, né? A maioria das pessoas são levadas por intenções mesquinhas, senhor Ministro. E pequeno que és, também fostes...

Deus permita, em sua infinita bondade e misericórdia que o senhor, Senhor Ministro, não cruze o meu caminho...
Por que se não, senhor Ministro, quem vai sentir medo é você. Porque eu vou falar e gritar na sua cara a minha indignação com a INDIGNA nação que eu vivo e a minha enorme tristeza...

O Senhor, Senhor Ministro, conseguiu o impossível: O senhor me deixou com vergonha de ser brasileira, Senhor Ministro.
Sinto pena de Francisco Ferreira Mendes e de dona Nilde Alves por terem parido um filho tão pouco pródigo, Senhor Ministro.

Brasília, 19 de junho de 2009.
Camila Vilela de Holanda, jornalista de formação.

terça-feira, 16 de junho de 2009

Lua e estrela.

Essa música me traz tanta doçura...


segunda-feira, 15 de junho de 2009

Antes de ti.

Trata-se do seguinte: Estou lendo um livro muito, muito bonito. É da Cristiana Guerra, uma blogueira que perdeu o marido e meses depois nasceu o filho. Ela decidiu contar a história do pai para o filho deles através do blog (http://parafrancisco.blogspot.com/) e eu não sabia disso quando comprei o livro no aeroporto, voltando das férias. Existem situações específicas, mas há, também, algumas situações que todos já passamos, seja por sorte, por infortúnio ou simplesmente por capricho da vida. Numa tarde ensolarada, resolvi publicar um dos textos. Ele se chama 'Antes de ti'. Digitanto o texto, palavra por palavra, pude voltar a um tempo de mim, um tempo meu, um tempo dividido em antes e depois de tantas coisas... P.S.: Os negritos, itálicos e os caps do texto são por minha conta e da minha conta. Esse é o tipo de texto que está marcado no meu livro em diversas cores de canetinhas, cheios de anotações nos lados das páginas e lembranças carregadas por todo o meu ser...


"Eu me lembro de decidir que iria ouvir uma música insistentemente. Como se fosse uma recomendação médica: ligar o computador, olhar fixamente para nossa foto juntos, escutar a música e chorar. E repetir o exercício quantas vezes fosse necessário. Até esgotar o choro, até o cansaço superar a dor.
Era julho de 2005 e eu tinha acabado de viver os cinco meses mais sofridos da minha vida.
Meio ano antes, eu e seu pai nos apaixonamos.
Uma pista de dança, um pôr-de-sol na serra, uma varanda, um bar de samba, uma rodoviária, uma pousada do século XVIII, um restaurante de amigos e finalmente o meu novo apartamento. E a deliciosa viagem de ouvir histórias, rir e chorar, entre o medo e a entrega, entre o saber e o descobrir. Mas logo a vida voltou ao normal, o cenário voltou a ser a sala de criação da agência, meu apartamento se encheu de móveis e se esvaziou dele.
Ele não conseguia ir adiante. Tinha saído machucado do casamento. Queria estar só por um tempo, reconstruir suas coisas, refazer seu espaço, retomar contato com gostos e sonhos. Queria cuidar dele, para então embarcar em uma nova relação. Está certo que eu queria ajudar, mas isso teria que começar por ele.
Era preciso deixar as coisas se assentarem - se é que isso era possível.
Acontece que trabalhávamos na mesma empresa. Na mesma sala. Um em frente ao outro. Diariamente, eu tentava disfarçar o que estava estampado no meu rosto. ELE SE ASSUSTAVA COM A CERTEZA ABSURDA DO QUE EU SENTIA. EU ME ASSUSTAVA POR NÃO CONSEGUIR ME LIVRAR DELA.
Ele tinha decidido não estar mais comigo. O coração dele, não.
Estar tão perto dele suscitava em mim sentimentos difíceis de controlar. Desejo. Saudade. Vontade de estar mais perto.
Da parte dele também parecia ser assim. Abraços, afagos, mimos, e-mails, músicas. Todo dia eu deparava com algum carinho vindo do seu pai. E você há de convir comigo que assim fic difícil.
Resultado: nos cinco meses em que permanecemos separados, permanecemos juntos. Não havia uma semana em que ele não me visitava em casa.
Entre uma noite e outra, trabalho. Entre um fim de semana sem ele e uma noite com ele, dúvidas. E O CORAÇÃO DOENDO DE INSEGURANÇA E ANGÚSTIA. Meu peito não teria aguentado por muito tempo.
Eu queria seguir em frente. Mas ele não me deixava em paz. Eu queria seguir em frente. MAS MINHA VONTADE DE LUTAR POR ELE TAMBÉM NÃO ME DEIXAVA EM PAZ.
O decorrer desses meses me deixou confusa. EU NÃO CONSEGUIA ENTENDER O QUE ELE SENTIA POR MIM E NEM SABIA LIDAR COM O QUE EU SENTIA. Mas tenho um instinto de sobrevivência impressionante. Tentava me interessar por outras pessoas. O que até acontecia. Ele tinha ciúmes. E o sofrimento ficava maior. Para mim e para ele.
Ao lado dele, eu me sentia feliz e livre. Separados, eu parecia condenada à prisão de não o ter. E essa era mesmo uma fórmula infalível para me prender. Mas eu vinha tentando todos os planos de fuga.
Cheguei a ensaiar uma saída do emprego. Recebi uma boa proposta e estava abandonando meus amigos e a agência de que eu gostava tanto. Precisava levar meus olhos para algum lugar longe do seu pai.
Estava indo para outra grande agência - um passo profissional interessante - não fosse o fato de, uma semana antes da data marcada para a minha ida, o Brasil descobrir que essa agência era uma das envolvidas num escândalo nacional.
Por um lado, desespero. Por outro, alívio. Meu lugar ainda estava ali. E meu lugar continuava sendo em frente ao seu pai.
Dei um jeito de sair de férias. Fui ao Rio passar uns dias sozinha. Mas as mensagens de celular chegam longe: as dele conseguiram me alcançar. PEGUEI UMA PRAIA, PENSEI, SOFRI, RESPIREI FUNDO E VOLTEI.
Enquanto isso, ele pensou também. Na volta, conversamos e decidimos fazer a ruptura. 11 de julho de 2005. Uma conversa madura, delicada, bonita. Ele me disse tantas outras coisas. Entre elas, que sempre esteve escondendo de si mesmo o amor que sentia por mim. Disse ter esperança de que o tempo passasse e que pudéssemos de novo nos encontrar. Não seria necessário. Afinal, nos encontrávamos todo dia.
Choramos muito. Queríamos o melhor um para o outro. QUERÍAMOS SER ALEGRIA. Eu tinha que aprender e respeitar. MAS AS DESPEDIDAS TÊM O PODER DE TRAZER O AMOR À TONA, FILHO.
Na mesma noite, fomos à festa de uma amiga em comum. Nosso encontro foi alegre e civilizado. Ao chegar em casa, desabei. Liguei pra ele chorando. 'Vamos passar essa noite juntos?', ele sugeriu. Não poderia ser diferente.
Quando chegou, eu esperava por ele de pijama. Entrou, colocou no som uma música nova e me tirou pra dançar. Seu pai não era fácil, filho. Se aquela era uma despedida, ele cuidou para que fosse inesquecível.
E foi ali, de pijama, no meio da sala, que dançamos enquanto o Jorge Drexler cantava aos nossos ouvidos: 'ANTES DE MÍ TU NO ERAS TU, ANTES DE TÍ YO NO ERA YO. ANTES DE SER NOSOTROS DOS NO HABÍA NINGUNO DE LOS DOS'.
Difícil acreditar que aquilo fosse mesmo uma separação.
No dia seguinte, acordamos juntos e seguimos separados. Já era hora de parar de sofrer.
À noite, levei a sério a tal terapia do choro. Música, foto, música de novo. LOGO VEIO O SONO, O MELHOR AMIGO DOS CORAÇÕES PARTIDOS. NA MANHÃ SEGUINTE, ACORDEI E A REALIDADE DOEU DE NOVO.
Mas dessa vez eu tinha decidido que seria diferente. Segui forte para enfrentar mais um dia de trabalho, mais um dia vendoseu pai. À noite, no aniversário de um amigo, A VIDA ME PRESENTEOU COM SINAIS DE ALÍVIO E ESPERANÇA. NOVOS ARES, NOVAS PESSOAS. É PRECISO SABER OLHAR PARA OS LADOS. Em três dias, comecei a namorar outra pessoa. Era fim de semana, e acho que seu pai nunca soube disso.
Depois de meses, finalmente eu terminava feliz um domingo. Meu amigo Dani tinha acabado de sair da minha casa depois de uma tarde leve e divertida. Tinha acabado de conhecer meu novo namorado. E eu estava indo dormir satisfeita. Enfim, seguia em outra direção.
Era por volta das dez da noite desse domingo, 17 de julho de 2005, quando recebi uma mensagem do seu pai no celular: "Posso dormir aí?". Alguns minutos para me refazer do susto. Eu tinha decidido dizer não, mas não me veio a coragem para escrever uma mensagem tão dura. Liguei, certa de que seria mais um movimento intermitente. Ele disse que precisava me ver. Veio. Abri a porta e o que encontrei do outro lado foi alguém dizendo 'Amo você'.
POR UM MINUTO, FIQUEI CALADA. POR QUANTO TEMPO ESPERAVA OUVIR DE NOVO AQUELA FRASE. Desnecessário dizer que era recíproco. Eu não sabia se beijava, chorava ou batia no seu pai. Ele sabia. Só fazia chorar e pedir perdão.
E foi assim, num piscar de olhos, que talvez o seu pai tenha entendido o que a música dizia:'Não entendo como podia viver antes'. Também não entendo, filho. Minha vida ficou tão mais bonita quando ele finalmente resolveu fazer parte dela."
(GUERRA, Cristiana. Para Francisco. 1ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2008).