sábado, 21 de março de 2009

Pontinho azul.

Hugo é um grande amigo e me senti imensamente honrada quando ele me mandou este artigo. Honrada por ele compartilhar comigo um pouco do seu próprio aprendizado e pela qualidade do próprio texto. É um alerta sobre a nossa covardia, e é um apelo para a educação e para a consciência ambiental (tão escassa em nós mesmos).

Seres humanos têm a tendência a achar que o mundo gira em torno de si e que são seres especiais, protegidos das forças da natureza.

Isso talvez tenha sido gerado pela antiga corrente de pensamento ocidental, no qual o Universo girava ao redor da Terra e os seres humanos eram superiores a todas as outras formas de vida, sendo ranqueados entre animais e deuses. Ou talvez, essa característica tenha sido cunhada em nossas mentes ao longo da evolução humana.

Pode ser que isto tenha sido fundamental para o desenvolvimento de nossa cultura no mundo moderno, porém, acho que o futuro da humanidade depende da nossa capacidade de transcender essa limitada visão, para então podermos não só salvar a nós mesmos, como a todas as outras criaturas que dividem o planeta conosco.

Como então poderíamos mudar essa situação?
Um bom começo seria investir pesadamente na educação de todos os seres humanos.
A educação é a chave para a nossa sobrevivência e de todas as outras formas de vida do planeta.
Com ela, nós deixamos de ser levados por fúteis superstições e credos, e aprendemos a admirar e dar valor ao mundo real: ao invés de pedir ajuda aos céus, tente você mesmo fazer algo para o bem maior do planeta!
Se você acredita que a máquina humana é fruto de uma obra divina, ótimo!
Então, nada mais justo do que usar essa máquina da melhor forma possível (desperdiçar tão sofisticada aparelhagem seria uma falta de consideração com o Criador, não seria?).

Eu prefiro acreditar que a chave para nosso futuro está em nossas próprias mãos.
Você acha que os 250 mil seres humanos que morreram em decorrência do Tsunami em 2004 eram piores do que você ou eu?
Você crê que eles realmente mereciam morrer, pois em algum outro lugar eram solicitados?
Prefiro ter como verdade que muitas dessas mortes poderiam ter sido evitadas caso a Indonésia fosse um país de primeiro mundo e tivesse um sistema de detecção de Tsunamis, tal como já existe no Oceano Pacífico.
E, acredite em mim: o Tsunami de 2004 foi apenas uma brisa se comparado a outros desastres naturais!
Há cerca de 75 mil anos atrás, a mega-colossal (termo científico real) explosão do vulcão Toba liberou mais energia do que 20 mil bombas Tsar, a bomba de hidrogênio.
Para efeito de comparação, a bomba Tsar, a mais potente já criada (e detonada pelos russos), liberou energia equivalente a cinco vezes a energia dissipada por todas as bombas da II Guerra Mundial, combinadas (bombas de Hiroshima e Nagasaki inclusas).

Estima-se que a erupção de Toba reduziu a população humana a apenas 2000 pessoas. Esse número deve-se ao fato dos seres humanos terem extrema baixa diversidade genética (um grupo de chimpanzés tem mais diversidade genética do que toda a população humana!).
Setenta e cinco mil anos? Muito tempo atrás!
Tudo bem, eis um exemplo mais recente: Em 1883, a explosão do vulcão Krakatoa teria causado a morte de 100 mil pessoas (também na Indonésia). Se tivesse ocorrido em 2004, o número de mortes poderia chegar facilmente aos milhões.

Resumindo, se você acha que está totalmente seguro e que está plenamente protegido, pense duas vezes.
O planeta só precisa dar uma balançada pra que sejamos esmagados como insetos
.

Através da educação, nós podemos minimizar drasticamente os efeitos das catástrofes naturais e, mais importante ainda, podemos salvar-nos de nós mesmos.
Pelo conhecimento, aprendemos a dar mais valor aos organismos que habitam o planeta, pois uma vez perdidos, nunca mais serão recuperados.

E se você pensa que a extinção de uma espécie não faz diferença, não pense duas vezes, pense três: Tudo e todos que vivem estão de uma forma ou de outra, interligados.
Imagine uma teia de aranha e que cada fio é uma das criaturas que aqui habitam.
Agora, multiplique essa teia por um bilhão de bilhão de bilhão, e você vai chegar perto da magnitude da teia da vida.
Pode ser que apenas uma baleia morta não faça muita diferença para a teia, mas do jeito que a gente a está tratando, pode ter certeza que não vai demorar pra ela desintegrar-se.

Você pode crer que não depende das outras formas de vida, mas é graças a elas que temos a capacidade de respirar, beber água limpa, nos alimentarmos e estarmos vivos. Infelizmente, ainda há um longo caminho a ser percorrido, pois a ignorância ainda reina soberana (e pior ainda, às vezes temos a impressão de que estamos seguindo o pior caminho possível).

O planeta já produz comida suficiente pra alimentar o dobro da população atual (12 bilhões de pessoas), entretanto, em 2007, 923 milhões de pessoas passaram fome: 100 mil pessoas morrem por dia de inanição!
Mesmo assim, trilhões de dólares são gastos com guerras inúteis (na verdade, uma guerra sequer é útil).

Se você se conforma com isso, eu sinto pena.
Mas, se você de alguma forma ou de outra quer fazer algo pra mudar esse quadro, comece parando um pouco de olhar pra o próprio umbigo e faça qualquer coisa que traga alguma mudança.
Não interessa se você não tem muita certeza do que fazer, qualquer mudança e bem vinda (pois, do jeito que está não dá pra ficar muito pior).
Quer uma dica? Comece tendo não mais do que dois filhos, a população já ultrapassou a capacidade do planeta em suprir recursos naturais (mais uma vez, acredite em mim: Esses recursos não são infinitos).

Se cada ser humano consumisse da forma que um norte-americano consome, seriam necessários dois planetas Terra pra suprir a demanda (considerando-se a atual tecnologia).
Acaso queira fazer alguma diferença, comece a procurar por soluções reais ao invés de pedir pra que um milagre caia dos céus.
Não se conforme com a atual situação, e da maneira que for possível, tente convencer aos que lhe cercam de que o mundo está errado e que não podemos ficar passivos vendo ele se acabar.

Felizmente, a capacidade de otimismo e auto-superação faz parte do repertório das características humanas, e acredito que ainda há esperança.
Visto do espaço, nosso planeta é apenas um pontinho azul perdido na vastidão do Universo.
Pode ser um pontinho minúsculo, porém é o nosso único pontinho, e não há outro pontinho reserva (a não ser que você tenha realmente vontade de um dia se tornar um marciano).

Hugo Frazão, biólogo.



(Foto: Marina Vilela, efeitos por mim)

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